Para entendermos
o dithering, precisamos antes entender
algumas outras questões.
Vamos começar explicando pra que serve um
dither e não o que é ou como funciona o
dither.
O uso do Dither
é um recurso para:
1-
Minimizar os erros de quantização que
produzem ruídos indesejados.
2-
Na passagem de 24 bits para 16 fazer com que
os níveis mais baixos sejam também ouvidos
em 16bits.
Para entendermos
então o funcionamento do dither, vamos
entender primeiro o que é o tal erro de
quantização falado:
Quando é feita a
amostragem do sinal analógico no ambiente
digital, o valor medido é aproximado
(quantizado) para o patamar mais próximo na
escala de amplitude gerando pequenos desvios
em relação ao valor do sinal original.
Esses desvios,
chamados erros de quantização,
modificam o sinal original introduzindo
ruído nas frequências mais altas.
Pode-se minimizar os erros de quantização
com o aumento da resolução em bits ou com a
amplicação de dither.
Para que
possamos entender o erro de quantização é
preciso entender de onde vem essa escala
para a qual acontece a aproximação (que
origina o erro) e que está diretamente
ligada ao número de bits:
Quando trabalhamos com 16 bits, temos
2 elevado a 16a potência
(216 = 65.536) níveis de
quantização e aproximadamente 96dB de
faixa dinâmica (6 x 16).
Esse último,
porque para cada bit adicionado temos um
ganho de 6dB à faixa dinâmica.
Logo, quando trabalhamos com 24 bits
temos 2 elevado a 24a
potência (224 = 16.777.216)
níveis de quantização e, aproximadamente,
144dB (6x 24) de faixa dinâmica.
Então quando trabalhamos com mais bits (no
caso de 24) temos muito mais níveis de
quantização, fazendo com que se tenha muito
menos erros de quantização do que em 16
bits.
Só que o nosso sinal vai ter que ser passado
para 16 bits, mais cedo ou mais tarde (na
verdade.. beeeem mais tarde).
Veja o gráfico abaixo então:
Quando falamos em relação sinal / ruído
(Signal to noise ratio) falamos do nível do
ruído em relação ao sinal máximo na faixa
dinâmica.
Na tabela acima, observamos que o sinal de
ruído numa escala de 16 bits encontra-se em
–90dB, logo, você já perde 1 bit do seu
sistema.
Você nunca tem todos os bits para a
representação da amplitude do sinal.
Se a sua música tem uma média de 78dB com
picos em 90dB, na maior parte do tempo o
sinal não estará usando toda a faixa
dinâmica possível, reduzindo em 1 ou 2 bits
o outro extremo da escala. Desta forma, você
observa que na melhor das hipóteses o seu
sistema estará trabalhando na maior parte do
tempo com 13, 14 bits de resolução, e não os
16 como se acha.
Por outro lado, quando aplicamos o dither,
ainda conseguimos ter informação sonora
abaixo do ruído.
Apesar de quando
trabalhamos em 16 bits temos uma faixa
dinâmica de 96dB, com a aplicação do Dither
conseguimos um ganho de faixa dinâmica para
algo em torno de 115dB. Isso se dá por conta
do efeito psicoacústico.
Ele é o tal que faz nosso cérebro discernir
o som de uma conversa baixa no meio de uma
barulheira de uma boate por exemplo. Da
mesma forma, nos faz discernir o sinal
original do ruído inserido pelo dither e nos
faz sentir o sinal original mais alto do que
ele realmente é, como no caso da voz. Temos
uma impressão de ganho de faixa dinâmica.
Voltando ao
dithering:
Dithering
é então a adição de ruído aleatório ao sinal
para distribuir os erros de quantização e
minimizar os efeitos auditivos causados por
eles.
Adiciona-se um
ruído beeeem baixo (no primeiro bit) que é
capaz de “empurrar” o sinal sonoro para os
níveis superiores.
Qualquer
operação de mudança de ganho (volume,
normalize maximize, equalização, etc) e toda
conversão digital de uma resolução para uma
inferior (ex: 24 para 16bits) exige
dithering.
Por outro lado, não se recomenda o uso de
dithering a cada alteração de ganho pois
isso tornará o som irremediavelmente
“velado”, sem brilho (como muitos reclamam
por aí).
-
Quando se aplica dither sobre dither, você
vai tornando o som mais “velado” -
Ao “empurrar” o
sinal original, o ruído inserido ocupará uma
parte da faixa dinâmica, reduzindo assim a
relação sinal ruído (S/N ratio) do sistema.
Em um áudio de 16 bits com dither aplicado
temos a redução de sua faixa dinâmica de
96dB para 93dB aproximadamente. Por outro
lado, devido ao efeito psicoacústico, temos
a sensação de aumento da faixa dinâmica,
como foi falado anteriormente.
Para que o dither seja aplicado com sucesso,
é preciso conhecer os tipos de dithering
existentes.
Existem o
triangular, o triangular shaping (muito
agudo, acima de 22Khz), o rectangular e o
noise shaping (dither filtrado – equalizado
em determinadas frequências – veja abaixo).
A melhor opção costuma ser o Noise shaping,
onde o espectro do dither é re-equalizado
movendo o ruído para fora das frequências
que o ouvido humano é mais sensível (em
torno de 3Khz) e nas frequências mais agudas
(entre 10 e 22Khz).
Só utilize o
Noise Shaping se você não for aplicar mais
dither.
Outra dica: Só converta para 16 bits no
final da masterização. Deve ser a última
coisa a ser feita em seu áudio.
-
Se você acha que vai passar o sinal por
outros plug-ins com dither escolha o
triangular.
-
Escolha plug-ins que trabalhem acima da
resolução que você trabalha.
Um DSP de 24bits processando sinais de 24
bits resulta num “noise floor” mais alto do
que o do conversor.
Assim, se os DSPs trabalharem num bit rate
maior, o erro de quantização fica abaixo do
noise-floor do conversor.
-
Grave ALTO. Procure usar a faixa dinâmica
que vai de –6dB a 0dB. Assim, você estará
usando mais bits de definição na hora da
conversão, facilitando as coisas para
futuros processamentos (equalizações e cia).
-
É bom lembrar que o sinal não deve passar
nunca de 0dB (no Sonar e em outros
programas/consoles, quando ascende a luz
vermelha do VU). Você estará danificando o
sinal e terá um resultado pior do que
qualquer erro de quantização que possa
ocorrer.
Isso é o que chamamos de clipping (a
expressão “o sinal clipou” é muito comum
aqui no Brasil).
Veja o gráfico para entender o que acontece
com a onda quando o sinal ultrapassa o
limite máximo de representação dos bits.
É bom ter todos
esses conhecimentos mas jamais se limite a
equipamento.
Pense que a arte é muito maior que zeros e
uns. Tecnologia não é e nunca foi barreira
para se fazer música de qualidade. Uma boa
composição, será boa SEMPRE.
Até a próxima matéria!
Daniel Farjoun
www.musilab.com.br
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Colaboração: Fernando
Iazzetta